Ouça ou leia. Espero que você goste desse artigo Conheça os psicólogos que atendem em São Paulo e os psicólogos online por videochamada. Autor: Rosana Tamyres Ferreira - Psicólogo CRP 06/139956
A morte de um ente querido é um dos momentos mais impactantes que uma criança pode vivenciar.
Nesse momento, ela se depara com profundos sentimentos de desamparo e impotência, sem entender exatamente o que está acontecendo, perdendo o mundo que conhecia e tornando-se difícil conhecer e lidar com os sentimentos de perda.
O luto infantil, ou luto na infância, é um processo de reconstrução diante da morte, é um desafio emocional com o qual a criança tem de lidar. Lidar com a perda não é algo para o qual somos ensinados naturalmente.
Com o decorrer da vida, passamos a encarar as experiências de luto de forma um pouco menos traumática, mas quando se trata de alguém próximo, como um amigo ou um ente querido, as chances de ficarmos abalados demais são grandes.
Cada um tem uma maneira de reagir e sentir a dor da perda. Contudo, esse processo pode ser ainda mais difícil para as crianças, dependendo da idade.
Alguns casos são tão delicados que recorrer à terapia infantil, com a ajuda de um psicólogo, é uma estratégia fundamental para superar a tristeza e a sensação de vazio.
Como pais e responsáveis, sabemos que é preciso ajudar os nossos filhos a passar por esse momento lamentável e inevitável da vida.
Entretanto, essa tarefa é realmente complexa, ainda mais pelo fato de também estarmos em luto, lidando com o nosso próprio sofrimento. Afinal, como explicar a uma criança, que desconhece o significado do conceito de morte, que ela nunca mais verá alguém?
A criança e a perda
A criança, especialmente com menos de seis anos de idade, possui maior dificuldade em compreender e aceitar a irreversibilidade da morte. Enfrentar a morte de quem se ama é um processo difícil em qualquer idade.
Quanto mais jovem for uma criança, maiores serão os efeitos desta perda, uma vez que ainda não possuem recursos internos para superar esse momento.
Dentre os aspectos mais observados em crianças diante da perda de um ente querido, está a negação, a agressividade e a culpa. Ela pode tratar seus colegas com hostilidade ou tratar seus brinquedos com violência. A forma pela qual a criança agirá diante da morte é particular de cada uma.
A duração e intensidade dependerão da sua personalidade e do vínculo afetivo com a pessoa perdida, e, claro, com o apoio dos demais familiares e responsáveis que a cercam.
Como contar para uma criança que ela perdeu alguém?
A melhor forma de agir diante desta situação tão complexa é ser direto e não inventar histórias para poupar a criança.
Evite termos vagos para tentar amenizar como “dormiu para sempre”, “fez uma longa viagem” ou “descansou”, pois só irão confundir a sua compreensão.
Crianças tendem a levar tudo ao sentido literal e podem alimentar uma expectativa que terão o seu ente querido de volta em algum momento no futuro.
Vale ressaltar, ainda, que é importante evitar as famosas expressões “fulano virou uma estrelinha”, pois, segundo a psicologia, crianças de até 10 anos estão com seu psiquismo em construção, não conseguindo captar certos conceitos de subjetividade.
Em outras palavras, elas pensam de maneira concreta e podem construir sua personalidade com base em conceitos irreais.
A idade é um fator relevante
O primeiro aspecto a ser levado em consideração é a idade da criança, pois a sua experiência de vida e a sua personalidade são fatores que influenciarão diretamente em sua postura para enfrentar a perda.
Além disso, o grande foco do problema é que uma criança, geralmente, não tem dimensão do que é a morte em si.
Crianças em idade pré-escolar
Para se ter uma noção mais clara, crianças em idade pré-escolar normalmente associam a morte com ideias de retorno, como uma viagem. Ou seja, algo que pode ser revertido ou alterado em algum momento, não sendo fixo.
Isso significa que, para crianças nessa faixa etária, a compreensão do “para sempre” não é atingida com facilidade.
Entre cinco a dez anos
Nesta fase da vida é mais comum que a criança comece a encarar o conceito real da morte, ainda que não pense que ela própria os ou seus entes queridos corram o risco de passar por isso.
Basicamente, a criança sabe da existência da morte, mas acredita que isso só acontecerá com desconhecidos.
De qualquer forma, lidar com a perda não é fácil em nenhuma idade e todo o ambiente familiar é afetado.
Portanto, é essencial que não somente você manifeste sua dor, como também ajude a criança a expressar o que está sentindo, sem esconder ou reprimir.
Reações comuns em crianças perante uma perda
É muito importante ter compreensão e paciência neste momento, pois é comum que o comportamento da criança mude. A tristeza é uma etapa normal e tende a ser mais forte mediante o nível de proximidade que a criança tinha com o falecido.
Quanto mais próximo, maiores as chances de a criança exteriorizar os seus sentimentos de maneira brusca, tendo atitudes de irritabilidade, agressividade e violência com as pessoas próximas, além de apresentar pesadelos frequentes e outros sintomas.
Os psicólogos afirmam que também é comum que a criança experimente uma regressão ou retrocesso no processo evolutivo, passando a agir como agia em etapas do crescimento anteriormente superadas, como forma de atrair a atenção para si.
Mas, esses indícios devem ser considerados passageiros, como sintomas de uma dificuldade de lidar com o luto.
Sintomas que podem se tornar frequentes
Os seguintes indícios podem se tornar presentes na vida da criança:
- Medo excessivo do escuro, chegando a provocar pânico e pavor;
- Dificuldades para ficar sozinha;
- Interação social afetada – a criança pode se negar a brincar ou interagir com outras pessoas, isolando-se do mundo;
- Rendimento escolar enfraquecido.
Além disso, a criança pode apresentar também o que conhecemos como “luto patológico“, que é quando ela perde o interesse até mesmo pelas coisas que antes a atraíam, perde o seu apetite, manifesta desejos de partir com o falecido, se irrita ao falar sobre o ente que perdeu ou fala do mesmo em excesso.
Apoio Psicológico
É necessário que as crianças vivenciem o sentimento do luto. Elas devem ser encorajadas a expressarem o que estão sentindo.
A criança, por não saber nomear seus sentimentos, se expressa por meio do brincar, utilizando-se da simbolização para expressar suas fantasias, ansiedades e sentimentos –por isso, no processo terapêutico é utilizado o apoio de brinquedos e desenhos.
Perder alguém significativo implica a necessidade de readaptação, principalmente no ambiente que traz lembranças da outra pessoa, de forma a lidar com questões emocionais e afetivas.
A ajuda do psicólogo promove suportes que favorecem recursos internos, possibilitando para a criança a elaboração do luto, bem como sentir-se acolhida, compreendida e segura em um momento de desamparo e incerteza.
Outras dicas que podem ser muito relevantes neste delicado momento:
- Caso assim a criança desejar, leve-a ao velório, explicando do que se trata esse momento;
- Permita que ela leve flores para colocar no caixão – isso pode ser uma forma dela se despedir;
- Permita que ela assine o livro de presença;
- Não esconda sua tristeza – se ela perguntar o porquê do seu choro, conte a verdade e explique que sentirá saudades do ente falecido, pois ele não voltará mais;
- Não omita a verdade sobre a a causa da morte – mas evite detalhes, principalmente se a causa da morte for trágica;
- Caso a criança peça, deixa-a ver o rosto do falecido e permita que o abrace e beije, se esse já fosse um costume antes do falecimento.
A morte é um acontecimento difícil de explicar, mas, caso a criança faça perguntas, responda-as com sinceridade e de acordo com suas crenças.
Com o decorrer dos dias, se a criança for muito ativa, estimule-a a brincar e passear ao ar livre, mas se a criança tem uma personalidade mais fechada, passe um tempo de qualidade a sós com ela.
Tente manter a rotina comum da casa, levando em consideração que novas boas memórias serão formadas deste momento em diante.
Esse tipo de atitude ajudará a criança a aceitar e superar a perda do ente querido, de forma realista (sem criar conceitos fantásticos sobre vida e morte).
Lembrando que é preciso ficar sempre atento ao comportamento da criança e respeitar a sua forma de lidar com o luto, nunca a obrigando a fazer nada que não queira.
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Autor: psicologa Rosana Tamyres Ferreira - CRP 06/139956Formação: A psicóloga Rosana Tamyres Ferreira é pós-graduada pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa. Sua experiência em liderança, gestão de projetos e gestão de pessoas têm sido de grande importância em seus atendimentos na área clínica...
Bastante interessante o artigo, pois de forma bem objetiva e pratica mostrou-nos como trabalhar o luto infantil. Parabéns.
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